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Felipe de Oliveira é jornalista, poeta e músico, mesmo que não tenha publicado ou gravado nada ainda, por enquanto, ou nunca. O fato de gravar ou publicar algo é o que faz de alguém jornalista, poeta ou músico? Penso que não. A essência vale mais! Tem que valer! Atualmente é funcionário público, durante 40 horas semanais. Nas 128 que restam, compõe músicas, escreve letras, poesias, reflete sobre a vida, filosofa... Dorme... Joga futsal e conversa fora. Enfim, vive de maneira peculiar cada momento, sem se importar se vai ou não ser lembrado ou reconhecido. Não é esse o objetivo. A ideia é viver o que se quer, o que se sonha, do seu modo, de acordo com o que se acredita.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Agora todo mundo é "jornalista"

O que dizer da decisão do STF (Superior Tribunal Federal) que extingue a obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão de jornalista? Nunca vi nada mais absurdo e ridículo! Trata-se de uma decisão arbitrária, sem fundamento sólido nenhum, baseado apenas na "liberdade de pensamento e de expressão como direito fundamental do homem", por tanto qualquer um estaria apto a escrever e se manifestar jornalisticamente. Ora, mas o jornalismo é mais do que literatura, meus caros. Mais do que meras técnicas de redação. Há por trás dessa profissão, tão pouco valorizada - cujo piso salaria gira em tono de 1200 reais (e a tendência é que sem o diploma o salário caia cada vez mais), - responsabilidades éticas e profissionais incomensuráveis.

O jornalista é tão importante quanto um médico. Se um médico é despreparado, inapto para exercer a profissão, ele pode causar sequelas graves ou até tirar a vida de uma pessoa. Da mesma forma, se o jornalista é inapto, ele também pode destruir uma pessoa ou uma instituição. A diferença é que o médico lida com a vida biológica, enquanto o jornalista manipula a vida social das pessoas. Imagine agora um médico sem diploma. Você confiaria que ele atendesse seus filhos, pais, irmãos? É a mesma coisa. Imagine um jornalista sem preparo (sem faculdade, sem o diploma) o estrago que ele pode fazer na vida de um cidadão, de uma pessoa física ou jurídica?

Para ilustrar tudo isso me vem à mente o caso da Escolas de Base, ocorrido em 1994, quando vários órgãos da imprensa publicaram uma série reportagens sobre o envolvimento de seis pessoas no abuso sexual de crianças, todas alunas da Escola Base, em São Paulo. Os seis acusados eram os donos da escola Ichshiro Shimada e Maria Aparecida Shimada; os funcionários deles, Maurício e Paula Monteiro de Alvarenga; além de um casal de pais, Saulo da Costa Nunes e Mara Cristina França. De acordo com as denúncias apresentadas pelos pais, Maurício Alvarenga, que trabalhava como perueiro da escola, levava as crianças, no período de aula, para a casa de Nunes e Mara, onde os abusos eram cometidos e filmados. O delegado Edelcio Lemos, sem verificar a veracidade das denúncias e com base em laudos preliminares, divulgou as informações à imprensa, que sem checar todos os lados da notícia, ficando só com o ponto de vista do delegado, publicou as notícias dando a entender que os acusados eram culpados, ou seja, colocando juízo de valor em um conteúdo que deveria ser informativo. A divulgação do caso levou à depredação e saque da escola e os donos da instituição de ensino chegaram a ser presos. No entanto, o inquérito policial foi arquivado por falta de provas. Não havia qualquer indício de que a denúncia tivesse fundamento. Se com jornalistas formados, experientes, acontecem falhas e equívocos dessa gravidade, imaginem com o cidadão comum, despreparado? A vida desses acusados, nunca mais foi e jamais será a mesma. O trauma causada pelo erro da imprensa deixa marcas para sempre.

Percebem a dimensão da importância do tema? Outro ponto que nos deixa - jornalistas e estudantes - extremamente chateados é o fato de ignorarem, de uma hora para outra, toda a nossa luta, o nosso esforço para termos uma profissão digna. Mesmo sabendo da não valorização do profissional de jornalismo ( financeira e socialmente), batalhamos por um ideal, na tentativa de ajudar a documentar a história e a mudar o lugar em que vivemos. Por isso me tornei jornalista, para fazer a diferença. 

Um comentário:

  1. Poxaa!!!!
    Gostei do desabafo!!!

    Quando fiquei sabendo dessa aprovação do congresso referente a dispensar o diploma para a área do jornalismo achei mesmo algo ridiculo, pensei e o povo que dedicou uma vida a isso?? O que serão deles???
    Nada a ver....Esta decisão somente afirma como o nosso sistema político é falho...Como a falta do que fazer no congresso afeta o nosso governo!
    Tantas outras coisas para aprovar e levar a sério, coisas de grande importancia por sinal, que ficam paradas...Enquanto aquilo que não se deve fazer é feito !!!
    Lamentável!!!

    Mas gostei do desabafo e de sua posição!!!
    Bem vindo a guerra, sempre!!!rsrsrs!!!!

    Gostei daqui!!!

    Abração e tudo de bom!!!

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