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Felipe de Oliveira é jornalista, poeta e músico, mesmo que não tenha publicado ou gravado nada ainda, por enquanto, ou nunca. O fato de gravar ou publicar algo é o que faz de alguém jornalista, poeta ou músico? Penso que não. A essência vale mais! Tem que valer! Atualmente é funcionário público, durante 40 horas semanais. Nas 128 que restam, compõe músicas, escreve letras, poesias, reflete sobre a vida, filosofa... Dorme... Joga futsal e conversa fora. Enfim, vive de maneira peculiar cada momento, sem se importar se vai ou não ser lembrado ou reconhecido. Não é esse o objetivo. A ideia é viver o que se quer, o que se sonha, do seu modo, de acordo com o que se acredita.

sábado, 2 de agosto de 2008

Bicentenário da imprensa no Brasil. Será?


Felipe de Oliveira

Nesse ano de 2008 “comemoramos” 200 anos de imprensa no Brasil. É possível notar um alvoroço intenso pelas Universidades país a fora, além de uma grande movimentação nacional com o intuito de homenagear a imprensa brasileira pelo seu bicentenário. Porém, não há motivos para comemorações. Muito menos por um bicentenário que nem existe. Isso mesmo, não existe.


Se analisarmos a história do Brasil, perceberemos que a imprensa brasileira (se entendermos como imprensa uma instituição livre de interesses políticos, censuras, dotada de ética, consciente do seu papel social) se é que existe, não tem nem 10 anos. Vamos fazer uma viagem rápida pela história do nosso país, onde será possível perceber uma série de aspectos que comprovam que realmente não temos 200 anos de imprensa no Brasil, uma vez que os meios de comunicação sempre ficaram nas mãos dos poderosos e por isso representavam exclusivamente os interesses da classe dominante, longe de terem, portanto, um papel isento e informativo.

A família real portuguesa chega ao Brasil

Há duzentos anos atrás a família real portuguesa fugia da Europa (já que Portugal estava prestes a ser invadido pelas tropas francesa de Napoleão Bonaparte e o país não tinha condições militares de enfrentá-lo) e chegava ao Brasil em 1808, mais precisamente no Rio de Janeiro, onde se instalaram. Traziam consigo um tipógrafo. Só a partir daí é que se começou a imprimir alguma coisa no Brasil. Até então era proibida qualquer atividade de imprensa no país. Enquanto a Europa já possuía uma imprensa desde o século XVI, o Brasil começava a ter teoricamente uma “imprensa” só agora, mais de 300 anos depois!

1808: “Oba, temos imprensa”

Oficialmente, o ano de 1808 é considerado o marco inicial da imprensa no Brasil, com a publicação do “Correio Brazilense ou Armazém Literário”, impresso em Londres, e com o jornal “Gazeta do Rio de Janeiro”, lançado meses depois e considerado o primeiro jornal impresso no Brasil. Mas será que devemos aceitar que a história de nossa imprensa começa aí? Não, de forma alguma! A “Gazeta do Rio de Janeiro” era um órgão oficial do governo português e relatava coisas como o estado de saúde de todos os príncipes da Europa, nascimentos de nobres, poemas e discursos da família real. O “Correio Braziliense” tinha também um caráter mais doutrinário do que informativo. Tratava de política, ou melhor, de fazer política. Além de tudo havia a censura. Tudo o que se publicava no Brasil precisava passar primeiro pelo aval da coroa portuguesa. Será que podemos considerar isso como imprensa?

E o Brasil fica “independente”

Em 1822 o Brasil ficou “independente”, a custa de uma dívida imensa que contraímos junto à Inglaterra, remetendo esse dinheiro à Portugal para que este nos reconhecesse como “independentes”. Deixamos de ser uma colônia e passamos a ser um Império. Nesse período o Brasil foi governado por D. Pedro Primeiro (1822 até 1831) e por D. Pedro II, se sucessor (1840 até 1889). Entre 1831 e 1840 o país foi governado por regentes. E a imprensa nessa época? Praticamente nada havia mudado e a censura prevalecia. O Brasil Imperial durou até 1889, quando houve a proclamação da República. Dá-se início ao que chamamos de “República do café com leite”, a República Velha, que durou até 1931. O poder estava concentrado nas mãos dos grandes latifundiários produtores de café (em São Paulo) e de leite (em Minas Gerais), que controlavam também a imprensa.

Mudanças acontecem, mas nada muda

A crise de 1929 afetou fortemente o mundo todo, inclusive o Brasil. O preço do café despencou. Em 1930 ocorreriam eleições para presidência e, de acordo com a política do “café-com-leite”, era a vez de assumir um político mineiro do PRM. Porém, o Partido Republicano Paulista do presidente Washington Luís indicou um político paulista, Julio Prestes, a sucessão, rompendo com o acordo. Descontente, o PRM se junta com políticos da Paraíba e do Rio Grande do Sul (forma-se a Aliança Liberal) para lançar a presidência o gaúcho Getúlio Vargas. Júlio Prestes sai vencedor nas eleições de abril de 1930, deixando descontes os políticos da Aliança Liberal, que alegam fraudes eleitorais. Liderados por Getúlio Vargas, políticos da Aliança Liberal e militares descontentes, provocam a Revolução, ou golpe, de 1930. É o fim da República Velha e início da Era Vargas.

A era Vargas

Para a imprensa, a era Vargas não foi muito diferente dos períodos anteriores. Os grandes meios de comunicação continuavam nas mãos dos poderosos. Em 1937 Getúlio Vargas, por meio de um golpe, prorrogou sua permanência no poder até 1945. Esse período (de 1937 a 1945) ficou conhecido como “O Estado Novo” e foi marcado, no campo político, por um governo ditatorial. Como sempre, não havia liberdade nem de publicação e nem de expressão.

Um curto período “democrático”

Houve um período curto de “democracia” (uso aspas porque duvido que existiu ou mesmo que exista nos dias de hoje essa tal democracia, uma vez que o governo nunca esteve nas mãos do povo. E no sistema capitalista, jamais estará. Só há democracia no Comunismo. Não use como parâmetro comparativo para refutar a minha afirmação a URSS e o stalinismo, pois aquilo jamais foi comunismo. Mas essa já é outra história, fica a discussão para uma outra oportunidade) que durou de 1946 até 1963, mas a imprensa continuava sendo controlada pelos poderosos e conseqüentemente era uma imprensa doutrinária, com interesses políticos. De maneira nenhuma, até aqui, houve no Brasil uma imprensa independente, livre de interesses escusos. Ou seja, ainda não havia imprensa de fato. E estava longe de existir.

A ditadura militar

Em 1964 veio o golpe militar e o Brasil entrou em um dos períodos mais deploráveis de sua história. Um ponto bem interessante foi que a “imprensa” da época (jornais como O Estado de S. Paulo, Folha e etc) apoiou o golpe, em oposição ao governo de João Goulart, já que este tinha uma política preocupada (minimamente, é verdade) com o lado social, abrangendo temas como a reforma agrária, por exemplo. O chamaram de comunista (como se fosse alguma desonra ou crime sê-lo), imaginem, João Goulart Comunista! Parece piada, mas não é. Jamais Jango, como também era conhecido, foi comunista. Muito longe disso. Talvez seria melhor que ele o fosse, tanto para ele como para o Brasil. Pois, bem, a “imprensa” pagou caro por ter apoiado os militares, pois os anos que se seguiram foram marcados por uma ditadura de direita violenta e extremista. Redações foram fechadas, jornalistas assassinados. A censura era tão forte que um censor era indicado pelo governo para ficar nas redações fiscalizando o trabalho que era feito. Será que podemos classificar essa escória que apoiou uma ditadura de direita como imprensa? Com certeza não! Isso não é imprensa!

A “redemocratização”

Vinte anos após o golpe de 1964, finalmente acaba-se a ditadura militar brasileira. Só 1984 é que o país se torna “livre”. Mas e a imprensa? Continuava nas mãos dos poderosos (ACM, Octavio de Oliveira Frias, Roberto Marinho e etc), continuava sendo instrumento de doutrinação e de interesses políticos. As eleições de 1989 (eleições diretas, depois de mais de 20 anos) foram um exemplo claro de que ainda não havia imprensa no Brasil, mas sim uma pseudo-imprensa, que manipulou clara e vergonhosamente a opinião pública em favor de um dos candidatos, Collor, no caso, prejudicando não só a Lula, candidato pelo PT, mas todo o Brasil. Falo da rede Globo, que forma até hoje o maior monopólio de comunicação no Brasil. O governo de Collor foi pífio, tanto que a própria “imprensa” que o elegeu fez campanha pelo impeachment.

Será que hoje temos imprensa no Brasil?

Levando em consideração todos esses aspectos e analisando que não temos nem 5 grandes jornais a nível nacional, é possível dizer que ainda não temos uma imprensa, no sentido amplo da palavra, no Brasil! Estamos ainda no processo de criação de uma, procurando uma nova identidade, distante da ideologia doutrinária e manipuladora de grupos como Globo, Folha, Estado, Zero Hora.

A imprensa brasileira ainda está em construção

O Caminho para a verdadeira imprensa ainda está sendo trilhado, por profissionais formados recentemente, há uns 10 anos no máximo, que repudiam todo esse estado de coisas vigentes atual e historicamente. Não é possível estabelecer um marco fixo pra designar em que momento exato a imprensa surgiu no Brasil. Porém, se tivermos que apontar uma data, que seja nesse século, representando um novo ciclo e deixando pra trás toda a vergonha que a pseudo-imprensa nos proporcionou nos séculos passados. Assim, Imprensa brasileira não tem 200 anos, jamais! Ainda está em construção e tem, portanto, se quisermos dar uma idade a ela, no máximo 7 anos!

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